Na chegada em Dili fui recepcionado por um companheiro de trabalho, Renato Wada (o japonês voador) e também pelo meu chefe imediato, Daniel Amaral. Saindo do aeroporto me levaram para o hotel onde ficaria (e onde ainda estou) passando por várias regiões da cidade a fim que tomasse o primeiro ar timorense e pudesse ver um pouco daquilo que seria minha casa por algum tempo. Sendo tudo muito diferente para mim, minha curiosidade estava à flor da pele mesmo com o cansaço da viagem. Logo de cara o primeiro choque: existe um campo de refugiados defronte ao aeroporto, sendo este ainda o maior campo da cidade. Dezenas de barracas da UNCHR espalhadas por uma grande área servem de casa e abrigo para dezenas de famílias que lá estão esperando condições para retornar à suas casas. Para quem aqui vive ou está há algum tempo, esta visão nada tem de estranha mas para mim que estava no Timor há menos de meia hora, certamente é uma visão estranha e que demonstra um pouco da real situação do país.
Passamos pela região do porto (onde existe mais um campo de refugiados), pelo Palácio do Governo, sede do governo federal e por outras regiões da cidade até chegar ao hotel. Tudo ia sendo explicado para que pudesse conhecer um pouco do local. Interessante era ver que mesmo sendo um país de colonização portuguesa, a mão de direção era inglesa tal como na Inglaterra, certamente devido a proximidade da Austrália e da importação de veículos desta região.
O hotel não passa de uma pousada para quem está acostumado com os hotéis brasileiros, mesmo aqueles de mais baixo valor. Simples mas limpo, todo arrumadinho e com uma vantagem: fica próximo a tudo (ou quase tudo) na cidade. Isso mostrou ao longo dos dias ser uma vantagem pois tenho que caminhar para todos os lugares por falta de condução própria (já resolvido parcialmente com a compra de uma bicicleta).
Deixei minhas malas no hotel e fui junto com Wada para sua casa a fim de tomar um banho pois meu quarto ainda não estava disponível. Pegamos um táxi em com 5 minutos de corrida já estávamos lá. Tomei um banho e fui informado que tinha uma “festa” para ir. Claro que não era para mim mas tive a sorte de chegar em uma comemoração da Defensoria Pública onde estão vários brasileiros trabalhando e teria uma feijoada no almoço. Claro que desacreditei pois não esperava encontrar feijoada tão longe de casa mas como estamos na chuva, é para se molhar. Pego minha máquina fotográfica para aproveitar a oportunidade e tocamos para o prédio da Defensoria, não muito distante de sua casa. A vantagem desta festa é que poderia ficar acordado por um bom tempo a fim de dormir somente a noite. Com isso conseguiria acertar o fuso horário e também resolver o problema do jetlag.
Na tal festa tive a oportunidade de conhecer alguns outros brasileiros que aqui vivem mas além disso, poder conhecer alguns timorenses e também um pouco de sua cultura. Nesta festa foi feita uma apresentação de um grupo de garotas típicamente trajadas que cantaram várias músicas de sua cultura, algo muito impressionante e bonito (as fotos podem falar por sí).
O interessante do povo timorense é sua educação e cordialidade. Mesmo sendo um país paupérrimo, são extremamente educados (pelo menos com os brasileiros) e muito cordiais. É simples você estar andando pelas ruas e lhe dizerem “bom dia”, “boa tarde” e assim por diante. Algo que não saiba e depois foi me explicado é que perguntam muitas vezes “para onde você vai”. De forma alguma isso é um avanço sobre sua privacidade ou coisa que o valha, mas sim uma forma de perguntar “como você está”. Confesso que na primeira vez que me perguntaram achei estranho mas como já sabia da história, respondi com um sorriso dizendo que estava indo descansar. A pessoa me abriu um grande sorriso e dando-se por satisfeito, seguiu seu caminho.
Na parte da tarde, finalizada a festa, fomos para uma praia (em meu primeiro dia!) chamada Areia Branca. Não que a areia seja branquela mesmo, mas o nome advém das areias brancas que aparentam não ser tão comuns nesta região (tanto que as praias que poderiam ser chamadas de “urbanas” são cascalho). Um conjunto de choupanas com sapê fazem do lugar um lugar tranquilo para comer alguma coisa no fim de semana, tomar um sol e descansar um pouco. Neste lugar tirei dezenas de fotos muito bonitas principalmente com o pôr-do-sol que chegava e deixava o céu todo vermelho.
Final do dia, de volta para o hotel só pensava em tomar um banho e dormir, Dormir e muito. Dito e feito, foram 14 horas de sono, somente separados por uma ida no banheiro e volta para cama. Passava da uma da tarde quando saí para almoçar junto com Wada e outros colegas em um restaurante australiano. Comida mais ou menos acompanhada por ceveja mexicana (não dá para tomar as cervejas australianas, são ruim demais!). Volto para o hotel para mais uma boa noite de sono pois no dia seguinte seria cheio.
Segunda-feira
A primeira providência era me apresentadar no QG da UNDP a fim de assinar contrato, fazer meu crachá (indispensável) e tomar outras providências. Junto comigo estava um outro UNV; francês radicado na Bélgica sendo trazido do Burundi para trabalhar no parlamento timorense. Conversamos um pouco sobre trivialidades e logo que ficou sabendo que era brasileiro, começaram as piadinhas e pedidos de desculpa por marretarem novamente os brasileiros na copa. De minha parte disse que não falaria mais com ele pois não admitia de cabeçudos (referindo-se ao Zidane). Claro que tudo na brincadeira, principalmente por ele ser uma pessoa muito engraçada e falar pouco francês comigo (que alívio!). Andamos por todo o complexo para fazer os crachás e efetivamente “tomar posse” de nossos cargos.
Almocei em um restaurante brasileiro chamado “Café Brasil”, um lugar muito gostoso, tranquilo e onde posso comer coisas que são muito próximas daquilo que encontramos em qualquer esquina paulistana. Lasanhas, bifes, frango assado e até feijoada. Claro que tudo isso com as devidas proporções pois não encontro, por exemplo, o verdadeiro feijão preto que temos no Brasil mas pelo menos não sofro muito com a comida.
A tarde fui para o Ministério da Justiça, ou seja, meu escritório. Conheci algumas pessoas, meu local de trabalho e também o ambiente onde ficarei. Nada muito diferente do que já conheci na vida. Comecei a instalar meus softwares na máquina e me “ambientar” com tudo. Resumindo, trabalho para uma semana toda.