Qualquer brasileiro com dois neurônios bons e um manco tem certeza que o processo de privatização das companhias telefônicas (as famosas teles) em nosso país foi um dos maiores engodos políticos e comerciais que já vivemos. Pagamos via BNDES para empresas estrangeiras manipularem dados e voz em nosso território sem criar uma efetiva concorrência que oferecesse opções para os usuários. Mudaram os donos mas a fedentina continuou a mesma (só que mais rápida).

Exemplo disso apresentou-se esta semana em São Paulo. O estado com maior PIB do país simplesmente foi removido do planeta Internet por um defeito “complexo e raro” ocorrido na Telefonica de España, aquela que detém o monopólio das telecomunicações do estado. Sem escrúpulos e principalmente sem respeito, a empresa desconversa sobre o problema que amordaçou não somente os pequenos e desamparados usuários domésticos, mas também o mesmo governo que graciosamente ofereceu a concessão à eles. Para abafar o caso, estão fazendo o possível para restabelecer as conexões e delegacias de polícia, serviços públicos, escolas e até mesmo poderosos serviços de transações bancárias tiveram seu período de nostalgia reavivando canetas Bic e formulários xerocados. Nem mesmo em países comunistas tal prática é possível ser imaginada. Lá, ou se tem funcionando ou não se tem. Nada de meio termo.

A agência criada para passar a afagar as ditas teles diz que está investigando as causas. Conversa! Não existem detetives dentro da agência e muito menos interesse em investigar qualquer coisa. Para quê mexer com a segunda maior empregadora do país e uma das maiores pagadoras de impostos? Deixa para lá, só foram 48 horas mesmo. A Ingrid ficou seis anos no cativeiro. Porque os paulistas não podem ficar dois dias sem Orkut e YouTube?

O possível é pouco, muito pouco. O correto não é o possível. Correto seria a verdadeira concorrência como vista nos países corretos. A falta de outras companhias, a falta do compartilhamento de redes e principalmente a falta de respeito com o cidadão fazem de nosso sistema telefônico e de Internet uma das maiores piadas da América Latina. Até mesmo países como México e Chile já descobriram a fórmula para resolver a questão. A mesma caneta Bic usada pelas autarquias públicas nesta semana poderia ser usada para colocar cinco, dez, cinquenta companhias na mesma área criando uma briga de preços, qualidade, serviços e atendimento corretos para o cidadão e mostrar efetivamente quem sabe fazer. Mas como a Mont Blanc repousa no escaninho do ex-repórter global que não tem interesse em nada mudar, ficamos a mercê do raro e do complexo advindos do velho continente, mira?

Neste momento mudo o dito popular “quem não tem competência não se estabelece”. Na verdade, quem não tem concorrência não precisa de competência e se estabelece.