Desde o último pleito nacional ando pensando sobre o assunto e decidi: não voto mais. Desculpem-me os que ainda acreditam e os que nutrem a esperança de ver algo diferente. Eu não mais acredito que será a classe política que irá mudar nosso país, mas sim nosso povo e que não será pelo voto. Por quê da decisão? Explico.
Venho de família de comunistas de carteirinha. Comuna mesmo. Tenho até uma foto de meu pai com Luis Carlos Prestes pendurada no quadro da sala. Desde pequeno sempre acreditei naquela ladainha do “povo unido, jamais será vencido”, torci e trabalhei com todas as forças para ver lá no topo a esquerda. Mas… quanta frustração. Chegou este dia e nada mudou. Aqueles que surravam a escória da sociedade representada por Sarney, Calheiros, Collor de Mello, Maluf e os demais (que já deve conhecer), agora andavam de mão dadas, afagos e tapinhas nas costas, só faltando fazer boquete. Então, o que restou? Uma frustração enorme, uma tristeza sem fim em ver toda a energia e esperança depositada em alguns para… nada.
Parece que o Brasil é especialista em criar frustrações. Veja a Fórmula 1. Depois da morte de Ayrton Senna, que graça teve? Assistir uma corrida onde sempre era o mesmo que vencia (o alemão voador) e ver um funcionário da F1 desfilando sua pulseria Power Balance para todos dizendo sempre que “no ano que vem será melhor”. O mesmo com nossa tão famosa seleção de futebol. Temida por muitos, virou um saco de pancada com os mesmos Cafu’s, Roberto Carlos e Dunga’s da vida. E quando se renova é mais do mesmo.
Obviamente que esta decisão acarreta alguns problemas e especialmente para mim, um grande. Sem a votação obrigatória ainda existente neste país (criada para poder sustentar esta mesma corja que está no planalto central há décadas), não posso tirar meu passaporte, documento imprescindível para uma pessoa como eu que faço das companhias aéreas, sofá de casa. Mas eis que confirmei minhas suspeitas: mesmo não votando e não justificando nas duas últimas eleições (isso mesmo, eu NÃO votei no Tiririca), resolvi o problema com míseros três reais e cinquenta e um centavos; valor da multa eleitoral paga por minha intransigência cívica. Colocando na ponta do lápis, não vale a pena sair de casa para votar pois a perda de tempo e o custo, além de manter a mesma coisa de sempre, é mais caro que a multa a ser paga para regularizar a situação.
Alguns vão dizer que assim não exerço minha cidadania. Sim, exerço pois a decisão de ir ou não escolher quem vai me representar deveria ser minha e não uma obrigatoriedade que já acaba logo na entrada com esta tal cidadania. Depois, a reciclagem que acontece é devido a morte que tenta dar uma maozinha (mas também não faz milagre). Morre um ACM e vem o neto ocupar seu lugar. Sarney “foge” para o Amapá mas deixa seu clã a postos no Maranhão. E o que dizer de Collor; depois de uma “saída estratégica para a direita”, retorna as bancadas do senado para legislar sobre todos.
“Mas tem quem preste”. Sim, tem. Até o momento que chega lá. Depois, o sistema e a corrupção é tão forte e tão onipresente que aquele “que presta” se suja de lama até o último fio de cabelo ou simplesmente nada faz porque a máquina emperra. Cansei de ver durante mais de 20 anos gente boa se elegendo, se corrompendo ou se perdendo nas engrenagens da política brasileira. Na verdade, não na política, mas sim na politicagem.
MIlton Nascimento exprime em sua magnífica música Travessia todo este sentimento: “já não sonho, hoje faço, com meu braço o meu viver”. Acredito sim que vamos mudar em algum momento deste século quando deixaremos de ser os boçais que engolem as manobras de Maluf para se sustentar em cargos, os roubos sistemáticos aos cofres públicos, as maracutaias de dinheiro nas meias, cuecas, orifícios rugosos e onde mais puderem enfiá-lo. E que me desculpe Teotônio Vilela e tudo aquilo que fez pelo país, mas menestrel que fala a língua do povo não mais existem nesta terra. Resta simplesmente esperar que as leis da seleção natural façam sua parte. Enquanto isso, vou deixando de votar para não ter que escolher entre Tiririca, Romário ou Vagner Montes para me representar pois, nem mesmo no mais alto grau de insanidade, tipos como estes poderiam ser minha voz, onde quer que seja.