Acredito que todos aqueles que procuram passagens aéreas para suas viagens usam como primeiro critério eliminatório o valor do bilhete. Como nós meros mortais não podemos gastar mais de 7 mil Reais num único trecho de business class e tampouco temos secretárias ou agências para fazer a pesquisa, acabamos usando este critério em primeira instância e depois, alguns outros para escolher o melhor bilhete. Mas algumas vezes surge uma dúvida: e se existem 4, 5, 6 opções com o mesmo valor (ou muito próximos), qual é a opção que traz mais benefícios?
Opções e mais opções
Por quê tantas opções com o mesmo preço? Porque o sistema aeroviário é assim mesmo; uma combinação de diversos fatores que levam a mesma companhia ou companhias concorrentes a praticar os mesmos valores de bilhetes ou valores muito próximos para um mesmo trecho. Quando isso acontece o viajante entra em parafuso, escolhe a primeira opção e não raro acaba perdendo ótimas oportunidades para incrementar suas viagens. Depois do bilhete emitido, não vale a pena chorar; é embarcar e pesquisar um pouco mais da próxima vez.
Então com valores iguais ou próximos, como saber o que é melhor? A resposta para isso requer um pouco de paciência e trabalho de busca. Mas como planejar uma viagem é tão bom quanto a viagem em si, com certeza esta atividade não será algo traumático.
Os benefícios
Variam muito. Pode ser um maior acúmulo de milhas, uma conexão com descanso, um stopover para conhecer uma cidade, excesso de bagagem e assim por diante. A lista é infindável e varia de companhia para companhia e de trecho para trecho. A intenção aqui não é cobrir todos os benefícios possíveis, mas aqueles mais comuns e que atraem mais o viajante. Vamos à eles.
Conexões
Conexão é uma coisa chata. Entrar em avião, sair de avião, passar por raio-x, caminhar por aeroporto é de cansar qualquer pessoa. Mas mesmo sendo chatas, pode-se tirar proveito delas de formas interessantes.
Tanto em voos nacionais quanto internacionais, uma longa espera de conexão (que é diferente de escala) pode ser usada para “bater perna” e conhecer um pouco o lugar. Não estou falando de ficar perambulando dentro do aeroporto, mas sim, na cidade onde ele está. Voos intercontinentais são bons exemplos disso. Uma viagem entre São Paulo e Varsóvia pode render um bom passeio em Paris ou Amsterdã sem a necessidade de pagar nada mais por ele. Com 12, 13 horas de conexão, é possível chegar no aeroporto, passar pela imigração, colocar a bagagem num maleiro se ela não foi despachada até o destino final e pegar um trem e/ou metrô para dar uma boa esticada nas pernas ou fazer uma refeição decente e mais barata (comer em aeroporto normalmente é ruim e caro). É claro que ficar atento com horários e principalmente com tráfego e distâncias entre a cidade e o aeroporto é obrigatório. Fazer isso em Cumbica (GRU) pode acabar com uma viagem por causa do ridículo sistema de transporte brasileiro, mas fazer o mesmo em cidades com Paris, Amsterdã, Frankfurt ou Kuala Lumpur é simples, fácil e rápido. Bons sistemas de transporte permitem estas esticadas.
Esta oportunidade é algo que a grande maioria das pessoas não sabe. Exceto em países que solicitam visto temporário, não existe nada que proíba a pessoa de sair do aeroporto para estes passeios. O mesmo acontece dentro do Brasil; se você vai de Porto Alegre a Manaus e tem uma conexão em São Paulo, terá obrigatoriamente que descer do avião e embarcar em outro. Neste momento, vá dar sua pernada.
Lembre-se: conexão é diferente de escala. Numa conexão você desembarca em um aeroporto para trocar de avião (por isso recebe dois ou mais tickets). Numa escala, o avião desce no aeroporto mas você continua sentadinho em seu lugar de origem para seguir viagem. Não invente de sair do avião numa escala. Vai gerar um estresse enorme para todos que vão ficar procurando você, afinal, companhia aérea só pode perder gatos e cachorros.
Caminha boa
Outra opção, dependendo da companhia aérea, é aproveitar-se de “benesses” da mesma quando a espera é grande. A Emirates por exemplo, em voos entre a Ásia e o Brasil, oferece a opção de hospedagem para o cliente quando sua conexão em Dubai (DXB) é maior que 8 horas. Depois de 15 horas de voo entre São Paulo e os Emirados Árabes, é uma ótima pedida para um descanso verdadeiro e posterior enfrentamento de mais 6, 8 horas de viagem até o destino final. Isso não é regra nas companhias e por isso é necessário conversar com cada uma delas e verificar quais são as opções existentes.
Também, companhias “premium” oferecem para seus clientes alguns diferenciais em longas conexões. Um deles é o acesso as salas VIP onde é possível descansar, comer algo melhor e sem custo, assistir TV, ler jornais, acessar a Internet e assim por diante. Cada companhia tem sua política e aqui a regra é a mesma: entrar em contato e verificar quais são as opções oferecidas por cada uma delas. Estes diferenciais podem inclusive ser diferentes de classe de bilhete para classe de bilhete.
Milhas
Ahhh, as milhas. Todo mundo quer milhas para poder viajar mais. Então que tal aproveitar os benefícios acima e acrescentar neles um acúmulo maior de milhas? Isso é possível graças as conexões que variam a milhagem dependendo da cidade onde a conexão vai ser realizada e sua distância até o destino final. Se você não tem pressa para chegar e quer obter algumas dezenas ou centenas de milhas a mais em seu programa de milhagem, veja o exemplo.
Numa busca recente para aquisição de um bilhete entre São Paulo e os Estados Unidos, os sites costumeiros de compra de passagens (Decolar, Expedia e Submarino) me apresentavam 5, 6 opções de voos com o mesmo valor mas com duração de viagens diferentes. Óbvio que isso era devido o tempo de conexão menor ou maior e que fazia minha viagem ser mais ou menos demorada. Mas além disso existia algo que estes sites não mostravam: as milhas: quantas milhas recebo por trecho?
Para entender a mecânica da coisa (e dar pistas de como você deve fazer), o exemplo de minha viagem: origem: São Paulo (GRU) – destino: Portland (PDX). Esta busca me retornou dezenas de resultados.
Ok, fácil de entender as diferenças de horários. Mas seria somente isso?
Além do valor ser 8 dólares mais barato, consigo também ver a diferença de milhagem entre os voos. Na primeira opção, 6947 milhas e 17:35 de voo; na segunda opção, 7604 milhas e 19:15 de voo (diferença de aprox. 1:15 a mais). É interessante observar que o valor não muda, mas somente o número de milhas e o tempo de voo. Porque isso acontece?
Conexões, exceto em programinhas furrecos de milhagem, contam como um “reset” no trajeto e consequentemente, na milhagem. Assim, um voo direto São Paulo – Manaus conta menos milhas que um voo São Paulo – Manaus com uma conexão em Brasília. Para alguns pode não ser muita coisa, mas quem possui cartões nas categorias mais altas dos programas de milhagem, faz uma grande diferença devido as “milhas extras” creditadas.
Esta diferença também existe porque a viagem não é uma linha reta. Nos exemplos acima o primeiro voo possui somente uma conexão enquanto o segundo, duas. Outro ponto interessante é que mesmo em voos com números de conexões iguais, podem haver diferenças devido onde a conexão é realizada. Este mesmo trecho com conexão em Chicago (ORD) oferece mais milhas que outro com conexão em Houston (IAH).
No frigir dos ovos, fazendo uma pesquisa no site da companhia, acabei pagando o mesmo mas obtendo 1980 milhas adicionais. Com as promoções que sempre aparecem, esta quantidade é a metade necessária para um trecho dentro do Brasil. Vale a pena ficar esperto com este tipo de detalhe e sempre pesquisar os sites das companhias aéreas para saber qual o número de milhas que o trecho pretendido oferece. Já vi casos onde a AirFrance dava somente 3500 milhas num voo entre São Paulo e Paris enquanto a TAP com 50 reais a mais, 6800 milhas.
Stopover
O stopover é uma escala voluntária realizada pelo passageiro em um determinado local e funciona assim: você vai fazer um voo entre São Paulo e Cingapura passando por Cape Town na África do Sul. Na volta vai aproveitar a conexão existente neste lugar e dar uma “esticadinha” de dois ou três dias para conhecer alguns leões e girafas. Esta parada ou “quebrada” na viagem é conhecida como stopover.
Para fazer um stopover você deve procurar voos com a opção de “múltiplos destinos” das ferramentas costumeiras (o Submarino Viagens não tem, é preciso ligar para eles e cotar) e colocar o ponto que deseja parar na viagem. Como exemplo, o voo para os Estados Unidos acima mas com um stopover em Chicago (clique para ampliar):
Agora o bilhete ficou 88 dólares mais caro devido o stopover mas convenhamos, é uma bagatela se comparado com a aquisição de um bilhete adicional. Mas nem sempre é assim. Muitas companhias permitem o stopover em seus bilhetes sem a cobrança adicional, principalmente quando todos os trechos são realizados por ela mesma.
Está é uma forma também de economizar pois não há necessidade de comprar um trecho ida-volta para algum lugar e mais um trecho para poder parar em outra cidade.
Finalizando
Comprar um bilhete de viagem por sites na Internet não é simplesmente escolher o aeroporto de partida, o aeroporto de retorno e as datas de ida e volta. Este é um erro que deve ser evitado principalmente quando o resultado da busca apresenta dezenas de opções com valores iguais ou muito próximos. Se quer aproveitar neste hora, veja o passo a passo:
- Verifique a quantidade de milhas que cada companhia/trecho vai oferecer. Pode ser que duas companhias fazendo o mesmo trecho tenham milhagens diferentes;
- Verifique o tempo de conexão. Se for muito grande, aproveite para uma pernada. Antes, se informe sobre a necessidade de visto de trânsito ou similar;
- Aproveite trechos longos para fazer stopovers. Com algum dinheiro a mais acaba colocando mais um carimbo no passaporte;
- Não deixe de consultar os sites das companhias. Algumas vezes existem promoções que não estão nos sites de viagens;
- Tem muita bagagem? Veja se não existe alguma vantagem maior comparando as companhias. Excesso de bagagem é caro.
Agora, é só embarcar!