Quatro anos se passaram desde o último texto aqui neste blog. Neste período, águas, viagens, mudanças, encontros e desencontros surgiram mas, acima de tudo, o insano debate pessoal do por quê escrever na era de mensagens instantâneas e redes sociais.

Sempre gostei de escrever e a escrita está em minha vida desde que conheço por gente. Vindo de família que têm nos livros a saída para quase tudo e pais que proporcionavam acesso aos mesmos, ler e escrever foi a base para minha formação.

Eu lia de tudo. Papel de bala para saber onde era fabricada, fórmulas, gibis e qualquer coisa que caía na mão. A biblioteca da escola era meu paraíso. Livros e mais livros emprestados, semanas a fio. Em suas páginas, viajava e, nas minhas, davas asas à imaginação.

Participei como co-autor em três livros, levando pensamentos sobre software livre à milhares de interessados. Também, dezenas de artigos sobre o mesmo tema em revistas especializadas por mais de dez anos. Um orgulho imensurável deste feito.

No processo de mudança pessoal e com a inundação da Internet com imediatistas sintéticos (no sentido de síntese), perdia aos poucos o prazer de escrever, culminando na questão: por que escrever se ninguém lê bosta nenhuma? Para que escrever se até ferramentas de SEO condicionam a forma como se escreve, chegando ao absurdo de pontuar a “facilidade de leitura”?

Então num certo dia, broxei. Simplesmente isso; broxei para escrever.

Antes que imagine ser essa broxada um problema pessoal, muitos dos grandes escritores também já broxaram pelos mesmos motivos ou outros mais profundos. Porém, broxar na escrita, é mais comum que imagina.

Fase broxante

Em 2017 morava e trabalhava na Holanda e estava no meio da broxada. O trabalho e o fantasma do possível retorno para o Brasil enchiam minha cabeça, forçando mais o estado “pré-broxante”. Belo dia, em frente do computador, tentei mas não passei do primeiro parágrafo. Naquele momento o prazer sumiu.

Foi foda ver o que tanto gostava escorrer pelos dedos. Pior; a perda deu-se não por falta de assunto, mas pela mudança dos tempos. Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp contribuíram na decisão. Pessoas viraram “produtos” com curto prazo de validade e aquilo que leem, ainda mais curto.

Ninguém mais queria escrever algo pensado, desenvolvido. Todos queriam escrever e consumir textos curtos, memes e insights. Ler tornou-se cansativo e mais ainda escrever. Muitos surfaram na onda, aproveitaram e aproveitam ao máximo o consumo ralo, breve e superficial (os chamados influencers).

Como nunca fui dado a ser influencer (mesmo sendo chamado de algo similar em certos nichos devido minhas atividades do começo do Século 21), concluí que, mesmo sendo doído, era momento de parar e aguardar. A vontade voltaria no futuro (ou não).

Nesta fase mudei-me da Holanda para a Bélgica ao assumir um longo contrato na Comissão Europeia. Retomei alguns hobbies, viajei para diferentes países e comprei um patinete elétrico. Fiz várias atividades e ocasionalmente a vontade de escrever aparecia, porém fraca.

A hora é agora?

Com a eleição do inominável em 2018, sentia formigamento nas mãos. A bestialidade propagada pelo miliciano e as contínuas discussões rasas advindas de suas bestas eleitoras (o gado), davam-me um comichão enorme. Mas ainda não era hora.

Eu continuava com as viagens, hobbies e vida pacata. Alguns churrascos em casa com amigos, muitos filmes com minha mulher, dezenas de cervejas. Por vezes, entrava em discussões com lunáticos no Twitter só para não perder o fio :)

No fim de 2019 veio a pandemia. Três meses depois, o lockdown na Europa e o começo do trabalho remoto. Era uma boa oportunidade para retomar a escrita mas ainda não era hora. Faltava redescobrir o por que escrever.

Por que escrever?

A resposta à pergunta surgiu num artigo de Michel Laub, Saudades do quê?, publicado na revista Piauí. Comecei a ler despretensiosamente, imaginando ser mais um bait text igual a tantos outros. Denso, bem escrito, interessante, passou longe disso. Um baita artigo sobre Renato Russo, o rock brasileiro e o bolsonarismo filho da puta (o “filho da puta” é por minha conta).

Terminei perguntando: “por que alguém escreve algo tão bom nos dias de hoje?” A resposta: “porque pessoas como eu, leem!”

Ali estava a esperada resposta. Ainda existem pessoas que leem bons artigos e ainda existem pessoas que escrevem bons artigos. Indo além, a escrita é o que eterniza o conhecimento, transportando-o para as gerações futuras. Nestes tempos sombrios, este ponto é de extrema importância para lembrarmos as merdas que estão sendo feitas para que não repitamos adiante.

O retorno

Não tenho pretensão de ser laureado com um Nobel de literatura. Também não quero ser influencer de nada ou ninguém. Somente quero ter prazer em escrever, da mesma forma que tinha antes.

A frequência de textos será menor, mas com conteúdo que julgo interessante ser compartilhado. Se quiserem ler ou comentar, será ótimo. Se não, “foda-se”. Com mais tempo para lá do que para cá na vida, o legado que tinha que deixar já está posto. Agora falta atingir as metas de 100 países conhecidos e experimentar 1000 cervejas diferentes.

Volto com as dicas e comentários de viagens recheadas de fotos numa nova galeria (clique aqui para vê-las). Também, textos sobre a Bélgica e Bruxelas, onde vivo e, como esperado, opiniões sobre a atual situação brasileira.

Que seja um bom retorno.