Ao contrário de muitos, tenho uma paixão arrebatadora por café. Tal qual Garfield, não possuo forma antes do primeiro balde do dia. Sim, chamo de balde porque o tamanho da caneca não dá para dizer que é uma caneca. É grande mesmo. Acho inclusive que minha coleção de canecas vem desta minha paixão pelo café sempre quente, forte e preto.
O ritual de beber café é algo meio religioso, meio sagrado nas terras-roxas paulistas que durante anos seguraram a economia brasileira. Pecado é chegar na casa de alguém e não tomar um café e heresia é servir café velho, aquele de garrafa térmica. Café tem que ser passado na hora para deixar o cheiro pela casa e aguçar o mais frio dos paladares. Neste ponto, sábia é minha velha que não possui garrafa térmica em casa e a última ganha de presente foi sistematicamente destruída para não ser usada. Com ela, só água na chaleira.
Ultimamente com estas andanças pelo mundo, arrumei duas manias: degustar café e cerveja (que fica para outro post). O café, de vários já provei: timorense feito num Starbucks neozelandês (horrível) e na minha cafeteira italiana (até que ficou bom), colombiano em Medellin, antilhano na Noruega e claro, brasileiro até na Alemanha. Alguns maravilhosos como o Café Vienna do Conjunto Nacional em SP e horríveis como o existente no aeroporto de Lima, Peru (também pudera, deveria ter pedido chá de coca e não café).
Mas existem alguns que ainda não pude provar e vou aproveitar a estada na Ásia para conhecer. Um deles inclusive, iguaria Indonésia considerado o mais chique (e caro) do mundo: Kopi Luwak. Sua diferença: café feito de grãos que foram comidos e… cagados!
Sim, é isso mesmo: um café cujo os grãos passaram por dentro de um pequeno mamífero e que, por motivos alheios à sua vontade, foram colocados para fora num digno ritual de “lavação de alma” que libera aquela sensação de bem-estar ao pequeno e os cifrões nos olhos dos catadores das sementes, as quais são vendidas pela bagatela de aproximadamente US$ 1.200,00 o quilo em países como o Japão e EUA.
Diante desta perfeita demonstração da Lei de Conservação de Massa de Lavoisier, passa por minha cabeça pensamentos atabalhoados que vão desde me imaginar em emprego tão indigesto até tentar advinhar o que tem na cabeça o cidadão que ficou pensando o que poderia fazer com aquilo. Pior mesmo é saber que existe uma verdadeira indústria de marketing sobre o produto levando-o à exportação para terras tão distantes como a Rua Oscar Freire em pleno coração dos Jardins paulistanos.
Então, entristecido, chego a conclusão que bosta dá dinheiro quando vejo algo assim e recorro também à fundamentação no guano do Peru e ilhas do Pacífico. Pensando bem, deveríamos tirar os gramados da Esplanada dos Ministérios e fazer um grande cafezal para, como a Indonésia, exportar café cagado. Certamente bosta não falta no Planalto Central.
*Kopi = Café em Bahasa Indonésia