Não gosto de contar o tempo com o tempo. Prefiro contar por estações como os antigos faziam e ainda fazem em alguns lugares do mundo. Não gosto de calendários e admito que sou muito ruim com datas, dependendo constantemente de lembretes eletrônicos para ocasiões especiais como aniversários e comemorações. E isto não é somente para pessoas mais distantes (que não quer dizer menos queridas), mas também para os mais próximos, como minha mãe (ainda bem que ela sabe disso). Tempo para mim se resume em, no máximo, uma semana e honestamente me admiro com aqueles que são verdadeiras agendas eletrônicas ambulantes. Penso eu que minha cabeça tem coisas mais importantes que guardar telefones e/ou a data disso ou daquilo. Para isso, existem agendas (que as não tenho, também confesso).

Isso não me deixa ser uma pessoa menos comprometida, ao contrário. Me liberta para me preocupar com aquilo que realmente é importante como por exemplo, ligar e escrever constantemente para aqueles que adoro e amo, sem data marcada, sem horário pré-estabelecido. Simplesmente tenho a vontade de dizer um “olá” ou ainda ouvir a voz dela do outro lado do mundo e faço. Se tivesse agenda seria algo assim: “dia 18 as 14:32, horário do Brasil, estou entrando novamente em contato”. É como aquele que envia um e-mail e liga para a pessoa dizendo que enviou um e-mail. Ora, se enviou não liga, se liga não envia. Lógico não é mesmo? (mas para alguns, não). Sinto soar mal em meus ouvidos a coisa de ter hora certa e justa para as vontades. Se tem hora, não é vontade, é obrigação.

(aqui faço uma pausa pedindo à todos que “esqueci”, o perdão. Não faço por mal, simplesmente não faço. Desculpem-me e entendam-me).

Mesmo com esta minha petulância com datas, nos últimos tempos criei o costume ruim de marcar meus aniversários longe de casa. Primeiro, dias. Depois, semanas e agora, meses. E nesta brincadeira de marcas vermelhas no calendário, já se foram seis meses longe da terra brasilis, do espeto corrido, dos palmitos macios, dos pudins de leite, dos cinemas, do trânsito infernal, das estradas esburacadas, das piadas com o senado e o presidente, da banca de jornal da esquina defronte a padaria. Seis meses passados de uma forma diferente, conhecendo pessoas diferentes, vendo paisagens diferentes.

Alguns teimam que diferente, ou é feio ou é ruim (não sei de onde tiram esta idéia). Ao contrário, acho o diferente interessante, bonito, mágico. Mas claro, seis meses de diferenças fazem com que elas não sejam mais diferentes e daí, hora de recriar o criado.

Nestes seis meses vi coisas que não esperava e outras que já as esperava. Conheci o outro lado de muitas coisas e também que muitas coisas têm os mesmos lados, tanto cá como lá. Consegui ver cores que não conhecia em pinturas que já conhecia, sentir pedras que não sentia mas sabia que existiam. Foram seis meses daquilo possivelmente chamado de retiro por alguns e entrega por outros, mas seis meses de realizações, principalmente pessoais.

Indiscutivelmente a saudade é o mal maior. Aprendi da pior forma. Estar longe é muito mais que linhas em um mapa que separam desenhos deste ou daquele continente. Assim mesmo, é factível o aceite desta quando se faz com determinação, com objetivo e com “por quê”. Os dias passam rápido sendo nenhum igual a outro e somando-se, as etapas vão sendo transpostas.

Enfim, quase pronto para mais seis meses, me pego num final de semana contemplando as ondas da baía de Dili num pôr-do-sol prateado (os quais nunca vi dois iguais em cento e oitenta dias), a espera da próxima viagem dentro de quinze dias para o reabastecimento completo das baterias e tomada de decisões sobre o período. Quem sabe o retorno não é mais rápido que o esperado?